a princesa de braços cruzados

(uma flashada tímida ao tecto do politeama)

— Não quero trabalhar, nem estudar, o que eu quero e namorar. — disse a princesa e cruzou os braços. Dormia de braços cruzados e tinham de lhe dar de comer porque a princesa só podia abrir os braços para abraçar o namorado e não havia nenhum namorado para ela. Quando se acabou o dinheiro, acabaram-se as criadas e acabou-se a comida. A princesa morreu de fome, muito suja, mas sempre de braços cruzados. E nem os cangalheiros nem os médicos legistas lhe conseguiram descruzar os braços porque nem os cangalheiros nem os médicos legistas eram o namorado da princesa de braços cruzados porque não havia nenhum namorado para ela. Foi conservada em formol dentro de um frasco de vidro transparente para ser mostrada aos visitantes do Museu de Historia Natural. Na placa que dá informações sobre o conteúdo do frasco está escrito em latim: “só descruzará os braços quando lhe aparecer um namorado”. Todos no Museu têm a esperança de que um dia um visitante saiba latim e seja o namorado da princesa de braços cruzados. Mas a empregada do balcão do bar do Museu, menos positivista do que o resto do pessoal, resolveu fazer o mesmo que a princesa dos braços cruzados. Por isso não há bicas para ninguém.

Adília Lopes in A Bela Acordada





Também eu, de braços cruzados, à espera que o tempo esteja de feição para poder decorar este canto com os meus caminhos reais. Sim, eu espero!